quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

INDUSTRIA DA CHEIA NO SUL DO PAÍS

Jornal O Globo 22/02/2012
Prefeitos superestimam danos climáticos para receber mais recursos e desviar verbas
Se a indústria da seca fez história no Nordeste, hoje é a indústria das chuvas que virou fenômeno no Sul do país. Prefeitos aproveitam a ineficiência da fiscalização dos órgãos de controle para superestimar danos, receber mais recursos e abusar de compras e obras sem licitação para desviar dinheiro público.
Levantamento feito pelo GLOBO em vários municípios localizou notas fiscais forjadas para justificar compras de materiais de construção nunca entregues, obras refeitas duas vezes em menos de dois anos, casas que nunca ficam prontas e pedido para construção de pontes que já existiam. Além de denúncias de direcionamento de contratos e pagamentos por serviços não executados.
Para a indústria das chuvas entrar em ação, o primeiro passo é decretar emergência ou estado de calamidade, o que permite dispensa de licitação.
Hoje a comunicação de decreto e pedido de verba é on-line. O ministério avalia o pedido, o orçamento, mas à distância. Notícias falsas nem sempre são detectadas, e por isso eles ficam reféns da má-fé de alguns gestores, conta o delegado federal Alessandro Netto Vieira, responsável pela investigação.
O diretor de prevenção de Defesa Civil de Santa Catarina, Emerson Neru Emerim, argumenta que o estado viveu nos últimos anos eventos climáticos complexos, mas admite haver abusos por parte de municípios.
O número de decretos cresceu porque muitos desastres ocorreram, é fato. Mas a indústria da decretação também cresceu, afirma o dirigente, que defende a criação de supervisões regionais para que técnicos possam verificar no dia seguinte a real situação.