quarta-feira, 23 de abril de 2014

OS AMARILDOS: QUE SOCIEDADE CRISTÃ É ESTA QUE CONDENA, MARGINALIZA E DISCRIMINA SERES HUMANOS – Um desabafo!

Tanto nas ruas de nossa cidade conversando com pessoas, como nas redes sociais, tenho observado que a grande maioria está de forma categórica qualificando aqueles pobres coitados acampados na região do Maciambú como “mandriões, vagabundos e verdadeiros bandidos”.
Entendo e compreendo o estado de indignação de todos em relação à situação de abandono em que se encontra nossa cidade. Porém, estamos falando de pessoas, seres humanos. Criminalizar as ocupações é se esquivar do problema social, político e econômico que elas representam. É condenar sumariamente famílias: homens, mulheres e crianças que lutam pela recriação de sua existência como trabalhadoras.
Como tudo na vida, reconheço, que entre eles devam existir alguns oportunistas e aproveitadores, mas com certeza é uma minoria.

Aqueles que me conhecem sabem que não sou um homem religioso, acredito muito em Deus, mas foram raras as vezes que frequentei a igreja. Contudo, tenho uma formação cristã e humanista voltada às questões sociais, políticas, culturais e éticas relativas ao município e ao País.

Preocupa-me muito a situação dessas famílias pelas condições desumanas e de saúde em que estão expostas. Além claro, da desintegração social, do desemprego e da perda de identidade cultural causados pelo abandono.
Mas, volto a afirmar que estamos falando de pessoas, repito: são homens, mulheres e muitas crianças, todos seres humanos.
Então pergunto? Mas onde está o espírito cristão dessa gente que condena, exclui e discrimina? E o sentido da Páscoa? Ah! Passou. Vamos então simplesmente condenar aqueles seres humanos a marginalidade? Passou-se 2014 anos e a história se repete. Acho que estou cansado de ver tanta hipocrisia, tanto discurso e pouca prática, sejam eles de religiosos ou de políticos.
As mesmas pessoas que hoje qualificam de forma pejorativa aqueles seres humanos, condenando-os ao ostracismo, a marginalidade e a própria sorte, serão as mesmas que irão ao próximo domingo as suas igrejas rezar, orar e pregar a vida cristã.
Não defendo invasões, mas a nossa cultura tupiniquim faz com que sejamos tolerantes as invasões dos ricos. Isso mesmo! Aqueles que constroem suas casas nas dunas e restingas encima das praias, dos costões, rios, lagos e até dentro dos mangues. Mas por outro lado, somos totalmente intolerantes a invasões dos pobres, cujo objetivo é apenas o sagrado direito a terra e ao trabalho. É preciso refletir!
O leitor deve estar pensando que estou louco. Mas digo que não. Estou sim de saco cheio de ver pessoas, religiosos e políticos se utilizando de passagens bíblicas para esconderem suas verdadeiras faces, quando cometeram e continuam cometendo irregularidades mais danosas e criminosas do que aqueles pobres coitados conhecidos como “Amarildos”.
O Brasil avançou muito na diminuição da desigualdade social. Mas é necessário que o país avance mais, principalmente na questão fundiária. A reforma agrária precisa garantir um processo mais rápido e eficiente, que deixe a invasão de terras totalmente desnecessária.
Isso é o que penso.

Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mateus 7.1). 
Vamos refletir!