Tanto nas
ruas de nossa cidade conversando com pessoas, como nas redes sociais, tenho
observado que a grande maioria está de forma categórica qualificando aqueles
pobres coitados acampados na região do Maciambú como “mandriões, vagabundos e verdadeiros
bandidos”.
Entendo e compreendo
o estado de indignação de todos em relação à situação de abandono em que se
encontra nossa cidade. Porém, estamos falando de pessoas, seres humanos.
Criminalizar as ocupações é se esquivar do problema social, político e
econômico que elas representam. É condenar sumariamente famílias: homens,
mulheres e crianças que lutam pela recriação de sua existência como
trabalhadoras.
Como tudo na
vida, reconheço, que entre eles devam existir alguns oportunistas e
aproveitadores, mas com certeza é uma minoria.
Aqueles que me conhecem sabem que não sou um homem religioso, acredito muito em
Deus, mas foram raras as vezes que frequentei a igreja. Contudo, tenho uma
formação cristã e humanista voltada às questões sociais, políticas, culturais e
éticas relativas ao município e ao País.
Preocupa-me
muito a situação dessas famílias pelas condições desumanas e de saúde em que
estão expostas. Além claro, da desintegração social, do desemprego e da perda
de identidade cultural causados pelo abandono.
Mas, volto a
afirmar que estamos falando de pessoas, repito: são homens, mulheres e muitas
crianças, todos seres humanos.
Então
pergunto? Mas onde está o espírito cristão dessa gente que condena, exclui e
discrimina? E o sentido da Páscoa? Ah! Passou. Vamos então simplesmente
condenar aqueles seres humanos a marginalidade? Passou-se 2014 anos e a
história se repete. Acho que estou cansado de ver tanta hipocrisia, tanto
discurso e pouca prática, sejam eles de religiosos ou de políticos.
As mesmas
pessoas que hoje qualificam de forma pejorativa aqueles seres humanos, condenando-os
ao ostracismo, a marginalidade e a própria sorte, serão as mesmas que irão ao
próximo domingo as suas igrejas rezar, orar e pregar a vida cristã.
Não defendo
invasões, mas a nossa cultura tupiniquim faz com que sejamos tolerantes as
invasões dos ricos. Isso mesmo! Aqueles que constroem suas casas nas dunas e
restingas encima das praias, dos costões, rios, lagos e até dentro dos mangues.
Mas por outro lado, somos totalmente intolerantes a invasões dos pobres, cujo
objetivo é apenas o sagrado direito a terra e ao trabalho. É preciso refletir!
O leitor
deve estar pensando que estou louco. Mas digo que não. Estou sim de saco cheio
de ver pessoas, religiosos e políticos se utilizando de passagens bíblicas para
esconderem suas verdadeiras faces, quando cometeram e continuam cometendo irregularidades
mais danosas e criminosas do que aqueles pobres coitados conhecidos como “Amarildos”.
O Brasil
avançou muito na diminuição da desigualdade social. Mas é necessário que o país
avance mais, principalmente na questão fundiária. A reforma agrária precisa
garantir um processo mais rápido e eficiente, que deixe a invasão de terras
totalmente desnecessária.
Isso é o que
penso.
“Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mateus 7.1).
Vamos refletir!